ENTREVISTAS: Armando Raimundo - Antigo Forcado dos Amadores de Évora

"O não virar a cara às adversidades; o saber que as dificuldades com a ajuda dos nossos amigos se podem ultrapassar; aquilo que por vezes sozinhos não conseguimos concretizar, com a força dos nossos amigos teremos sem dúvida nenhuma mais hipóteses de êxito; o compromisso da nossa entrega por um amigo... (Armando Raimundo)
No próximo domingo, dia 28 de Outubro, pelas 17 horas, terá lugar na Catedral do Forcado, em Évora, a Corrida de Exaltação ao Forcado Alentejano, e em praça para pegar um poderoso curro de  Herdade de Pégoras, estarão os Amadores de Montemor e Évora.
O FORCADO AMADOR entrevistou dois antigos forcados que envergaram,  um a jaqueta de Montemor, outro a de Évora e que dia 28 lá estarão a apoiar o seu grupo na Arena d'Évora!
Armando Manuel de Mendonça Raimundo, nasceu a 1 de Abril de 1969 em Lisboa, e vestiu a jaqueta da ramagens dos Amadores de Évora entre os anos de 1991 e 2002. Fardou-se pela primeira vez na praça de toiros de Elvas a 10 de Maio de 1991. Continua sempre que lhe é possível a acompanhar o seu grupo de Évora.

Vitor Besugo (VB) – Como nasceu o teu gosto pelos toiros e, como chegaste ao Grupo de Évora?
Armando Raimundo (AR) - O meu gosto pelos touros chegou já tarde, tinha cerca de 18 anos de idade. Muito se deve ao meu irmão Nuno Raimundo e ao grupo de amigos entre os quais o João Nuno Patinhas (meu grande amigo que infelizmente já nos deixou), com quem andava na altura. Em comum jogávamos râguebi. Na altura o Cabo do GFAE João Pedro Oliveira, era igualmente jogador de Râguebi, pelo que naturalmente comecei primeiro por acompanhar o grupo (em 1990) e depois de frequentar os treinos, acabei por me fardar na primeira corrida da época de 1991.

(VB) – Como defines o "Forcado de Évora"?
(AR) - Para definir o forcado de Évora, tenho que o fazer em duas vertentes. Dentro e fora da praça. Fora da praça sempre se caracterizou pela grande amizade entre os seus pares, pelo respeito pelos mais velhos e pela tradição do forcado amador. Dentro da praça, prima pelo cuidado como se apruma na fardação, pela correta postura tanto na trincheira como na praça no momento em que é chamado a actuar. Embora cada forcado tenha a sua forma de expressar a pega, tanto os forcados da cara como os ajudas, demonstram sempre muita valentia e espírito de amizade. De uma forma geral, transmite-se de geração em geração, quais os tempos que se devem contemplar na pega, procurando que cada forcado os interprete da forma como sente este momento muito especial.

(VB) - Quais foram os forcados que mais te marcaram?
(AR) - Foram vários os forcados que me marcaram. Ao contrário talvez de outros forcados, foram os da minha geração aqueles que iam sendo as minhas referências. Quanto aos forcados de caras, recordo a forma de estar em praça do Manuel Murteira do GFA Santarém, a garra do Pedro Sotero do GFA Montemor, e a intuição do Pedro Barradas inicialmente no GFA Évora e depois no GFA Moita. O meu cunhado Vasco Dotti também me impressionou não só pela garra mas pela longevidade com que andou e bem no activo. Em termos de conhecimento da pega, recebi dos mais velhos do grupo entre os quais o meu cabo João Pedro Oliveira, o Gracindo Valadas e o cabo Fundador João Patinhas, muitos dos ensinamentos que tentei ao longo dos anos em que estive no activo, integrar na forma como executava as pegas. No entanto, os forcados que mais me marcaram, foram aqueles que ano após ano, corrida após corrida, touro após touro, fui com eles cimentando verdadeiros laços de amizade, laços esses que seguramente perpetuarão pelos anos fora.

(VB) - Qual o momento, ou momentos, que melhores recordações te trazem do mundo dos toiros?
(AR) - Felizmente sou daqueles que podem dizer que foram muitos e bons os momentos que pude desfrutar como forcado no GFAE. No entanto, recordo com saudade a primeira pega de caras pela novidade, pelo contexto onde decorreu, assim como a pega da minha despedida. Foram momentos de grande emoção. De resto, recordo diversos êxitos em corridas nas primeiras praças de Portugal, mas também o convívio que nos proporcionavam as digressões a Espanha, França e à Colômbia.

(VB) - E os piores momentos?
(AR) - São 4 os momentos que se tivesse oportunidade, gostaria de apagar. No entanto, toda a nossa personalidade resulta do acumular de todas as experiências passadas e como tal temos que viver igualmente com estas recordações. Assim, as 3 pegas que não consegui concretizar foram sem dúvida momentos de grande tristeza. Realço ainda a grave colhida que o meu amigo Pedro Barradas sofreu em Beja e que o deixou vários meses numa cama do Hospital. Graças a Deus que com a sua fibra e valentia, recuperou tendo ainda posteriormente voltado a envergar com brio a jaqueta do GFAE.

(VB) – Como analisas o actual momento dos Amadores de Évora?
(AR) - O Grupo apresenta uma boa presença em praça, tem bons forcados de caras, ajudas, rabejadores, cernelheiro, e o António Alfacinha está a conseguir que os laços de amizade entre os forcados se reforcem, com os benefícios que este factor poderá trazer para a actuação em praça. Infelizmente embora estejam a atravessar um bom momento, não conseguiram presença em muitas corridas. Por um lado, sabe-se que nunca existiu como hoje tantos grupos de forcados. Por outro lado, lamento a forma como alguns grupos conseguem entrar em determinados cartéis em detrimento de outros talvez mais consagrados e em melhor momento como é o caso do GFAE.

(VB) – Dia 28 de Outubro vai realizar-se em Évora a corrida de Exaltação ao Forcado Alentejano. Vais estar presente? E o que esperas dessa corrida?
(AR) - Com efeito espero estar presente. Espero que os touros proporcionem um bom espectáculo. É sem dúvida o ponto fulcral para que cavaleiros e forcados possam obter os êxitos que procuram.

(VB) – Finalmente, um conselho para quem ser Forcado?
(AR) - É complicado formular um conselho para um jovem que pretenda ser forcado. Todos os sacrifícios valem a pena caso se criem laços de amizade para o resto da vida. Os valores, tradições, costumes, fazem com que o manancial de experiências vividas no seio de um grupo de forcados, possa também ser uma escola para a vida. O não virar a cara às adversidades; o saber que as dificuldades com a ajuda dos nossos amigos se podem ultrapassar; aquilo que por vezes sozinhos não conseguimos concretizar, com a força dos nossos amigos teremos sem dúvida nenhuma mais hipóteses de êxito; o compromisso da nossa entrega por um amigo; a humildade perante a fera (touro) que nos pode dar o êxito mas também a tragédia; o sentimento de querer melhorar quando as coisas não nos correm bem; o respeitar as decisões de quem lidera (neste caso o cabo); enfim, são tantos os valores que se podem adquirir, que seguramente ultrapassam os riscos associados a esta arte de pegar touros. Talvez para finalizar, a única indicação que poderia dar fosse para que escutasse os mais velhos, que desfrutasse ao máximo cada momento passado com os seus amigos, e que respeitasse e admirasse sempre a razão pela qual pretende ser forcado: O TOURO.






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